São João do Maranhão
Lendas profanas e crenças religiosas são como fogo na lenha da grande fogueira cultural que aquece São Luís no mês de junho. Elas fazem parte da essência de mais de 500 grupos folclóricos responsáveis por cerca de 1.500 manifestações populares nessa época do ano.
Diz a lenda no Maranhão que o escravo Pai Francisco, para satisfazer a sua mulher “Catirina”, grávida e com desejo de comer língua de boi, mata o novilho Mimoso, o mais querido do seu senhor. Ao ser descoberto, Pai Francisco foge com a mulher, mas é preso e finalmente libertado quando feiticeiros conseguem, por meio de rituais mágicos, ressuscitar o animal. Assim nasceu o Bumba-meu-Boi – culto popular de origem europeia que, ao se misturar com a cultura africana, se transformou em patrimônio imaterial brasileiro e o grande destaque da festa junina de São Luís do Maranhão.
No mês de junho, durante 18 dias, a cidade ganha novos ritmos, cores e danças. A variedade de indumentárias, adereços e instrumentos específicos, toadas e músicas próprias atravessam as madrugadas da cidade ao som de zabumba, orquestra, pandeirão, matraca, costa de mão e baixada – variedade de grupos nascida de pelo menos cinco raízes folclóricas.
O principal ponto de encontro ocorre no terreiro da Praça Maria Aragão – região central da cidade. A multidão é embalada ao som do Tambor de Crioula, do Cacuriá, da Dança do Coco, Bambaê de Caixa, Dança do Lelê, Dança Portuguesa, Dança do Boiadeiro e, claro, pelas quadrilhas.
Cada um dos ritmos marca a comemoração de um santo. O Maranhão é o único estado brasileiro que que festeja quatro santos católicos durante o mês de junho: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal.
No dia de Santo Antônio (13 de junho), o santo casamenteiro, as igrejas costumam distribuir pãezinhos, que serão guardados o resto do ano como forma de garantir fartura de comida durante o ano.
O São João (24 de junho) celebra São João Batista. Há uma lenda de que o grande santo dos festejos juninos prefere dormir o dia inteiro de sua festa para conter o desejo de, ao ver as fogueiras, descer e comemorar na terra. Para tentar acordar o santo, os fiéis soltam muitos fogos de artifício durante o dia.
São Pedro (29 de junho) é o santo protetor dos pescadores. Sua festa na cidade começa em frente à capela que leva seu nome, no bairro Madre Deus. Os grupos de Bumba-meu-Boi se aglomeram no largo, onde se “rouba” o mastro de São João. O guardião das portas do céu é também responsável pela chuva e por proteger pescadores e viúvas.
São Marçal, (30 de junho), encerra oficialmente os festejos juninos. Nesse dia (desde às 6h da manhã até a madrugada), ocorre o Encontro dos Batalhões de Bumba-meu-Boi, no bairro do João Paulo. A festa de São Marçal surgiu da proibição aos grupos de Bumba-meu-Boi de seguirem para a área do centro da cidade, sob pretexto de manutenção da segurança, ordem e tranquilidade. O “Areal do João Paulo” se tornou, desde então, o ponto oficial de encontro gigantesco dos grupos de bumba-boi.
O Tambor de Crioula também entra nas festividades, no entanto, para homenagear São Benedito – santo negro de forte identidade com a maioria afrodescendente do estado.
Um dos “arraiás” mais esperados pelo público ocorre na Praça Maria Aragão e traz shows, apresentações de quadrilha, além de barracas com comidas típicas. Entre os tradicionais pratos das festas de São João de São Luís estão o arroz de cuxá, peixe frito, arroz Maria Isabel, torta de camarão e mingau de milho.
Em meio à diversidade cultural de São Luís do Maranhão, cores e sons se misturam em um turbulento espetáculo, cuja força cultural conquista milhares de turistas em arraiais repletos de alegria e muita diversão.
Mais informações em: saoluis.ma.gov.br
Texto por: Pedro Teixeira
Fotos: ma.gov.br e Google Imagens